No
Brasil, a mata cobria as terras moles da bacia amazônica, e a partir da barra
do S. Francisco, depois das dunas e mangues do Nordeste, seguia o litoral até
muito além do Capricórnio, para terminar nas praias baixas do Rio Grande...
Na zona equatorial do Brasil, o clima constantemente úmido e
quente desenvolve uma força e violência de vegetação incomparável. É a Hiléia
amazônica, cobrindo de arvoredo a maior extensão de 21 terras do universo, mais
de 3 milhões de quilômetros quadrados. Nela, os sentidos imperfeitos do homem
mal podem apanhar e fixar a desordem de galhos, folhagens, frutos e flores, que
o envolvem e submergem. Da confusão sobressaem os troncos da seringueira, da
sapucaia, do pau d’arco, da massaranduba — a árvore do leite, — do bacori,
pelos quais às vezes sobe o caule flexível da jassitara, palmeira enrediça, à
procura da claridade do céu. A vegetação eleva-se por andares, atingindo 40 a
60 metros de altura, enlaçando-se aos troncos os cipós e parasitas, em luta
pela vida, como num espaço demasiadamente povoado. Pela costa do Atlântico a
mata, aproveitando o acidentado do solo e a umidade condensadora dos ventos
gerais de sueste, excede em beleza e pujança a própria floresta equatorial. É o
mesmo emaranhado hostil de lianas, trepadeiras e orquídeas, mas na submata as
urticáceas, espinhos, samambaias tolhem ainda mais o andar do homem, que só
vence a vegetação a golpes de facão. As madeiras preciosas, pelo refinado da
qualidade e pela multiplicação das espécies, são superiores às da Hiléia: assim
os Jacarandas, por exemplo, se desdobram numa variedade infindável — o
jacarandá-preto, jacarandá-rosa, jacarandá-roxo, jacarandá-deespinho,
jacarandá-tan, Jacaranda-violeta, jacarandá- mocó, jacarandá-banana. É a mata
do pau-brasil que deu o nome à terra, e do seu maciço verde-escuro alça-se a
galhada do jequitibá, igual à dos veados, acima dos finos palmitos e das
embaúbas de prata. O chão é um tapete de flores caídas, de todos os tons, desde
o amarelo-escuro, do vermelho-rubro, da cor--derosa, até o lilás, o
azul-celeste e o branco alvíssimo. Variando com as estações, ponteiam a
tapeçaria de verdura o roxo da flor-da-quaresma ou o ouro vivo do ipê. Pela
encosta acima, a floresta avança para o interior, numa faixa superior a 200 ou
300 quilômetros, como no rio Doce, onde vai alcançar o segundo planalto, já na
serra do Espinhaço.
Habita o vastíssimo território a mais variada fauna, tão
extensa como a própria flora. Representam-na como tipos característicos as 19 espécies
de Edentados: tatus, preguiças e tamanduás. Pássaros, das mais vistosas
plumagens — com as suas 72 espécies de papagaios, beija-flores e bandos de
borboletas, acordam e animam araras, periquitos e maitacas, — com os seus
tucanos, o silêncio da mata feito de mil ruídos de insetos. Nos primeiros
tempos, cardumes de baleias freqüentavam a miúdo as praias e recôncavos da
costa: das janelas do Colégio da Bahia os primeiros jesuítas as avistavam
“saltando tantas e tão grandes, que era para ver”.
Mais para dentro, além da antecámara suntuosa da floresta,
se estendia a vastidão da terra desconhecida — caatingas, catanduvas, cerrados,
cerradões, carrascos, campos-gerais, pantanais, — donde desciam ou se afundavam
pelos sertões os largos rios, cheios de promessas misteriosas, convergindo nas
três grandes bacias do Amazonas, do Prata, e na do Oceano Atlântico em que
avultam o Parnaíba e o S. Francisco. Por esse interior, em Minas, Goiás,
Mato-Grosso, S. Paulo e todo o Sul, recomeçava a mata, aproveitando os 23
grandes acidentes de relevo, o paredão do planalto, a umidade das cabeceiras,
as condensações freqüentes.
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