segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Seus olhos, de Gonçalves Dias

Seus olhos, tão negros, tão belos, tão puros,
 de vivo luzir,
estrelas incertas, que as águas dormentes
 do mar vão ferir;

seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 de meiga expressão
mais doce que a brisa, — mais doce que a frauta
 quebrando a soidão.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 de vivo luzir,
são meigos infantes, gentis, engraçados
 brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
 em jogo infantil,
inquietos, travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento,
 com modo gentil.

Seus olhos são negros, tão belos, tão puros,
 assim é que são;
às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
 às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
 tão frouxo brilhar,
que a mim parece que o ar lhes falece
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
 me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
 desperta a chorar;
e mudo, sisudo, cismando mil coisas,
 não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
 às vezes do céu
cai doce harmonia duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste
 de pranto co'um véu.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
 de vivo fulgor;
seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia,
 com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 assim é que são;
eu amo esses olhos que falam de amores
 com tanta paixão.

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